terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quem precisa de censura?


Dia desses, um jornalista catarinense dos bons e amigo melhor ainda me confidenciou, magoado, que estava sofrendo pressões do veículo no qual trabalha por conta de suas posições políticas. Contou-me que, durante muitos anos, exprimira suas convicções livremente, pois que eram muito semelhantes ao pensamento e a opção editorial dos mesmos veículos, dos mesmos patrões. No caminho da constatação de que as coisas mudaram – e como -, um belo dia ele foi chamado a uma conversa com o editor-chefe, que, por sua vez, havia sido provocado pelo diretor comercial que, por coincidência, era filho do patriarca. Ele foi informado que o cliente privado XPTO estaria tirando a verba da publicação caso ele permanecesse com sua linha de posicionamento. Ao ouvir o relato, perguntei a mim mesmo "quem precisa de uma censura governamental se já temos, entre nós, mecanismos horrorosos de opressão e intimidação, públicos e também privados, capazes de submeter inclusive aqueles que, outrora, foram formidáveis e providenciais líderes de opinião?".
Até mesmo o atual governo se deu conta de que não precisa mais se preocupar com essas polêmicas trivialidades. Descobriu que é muito mais fácil ligar para a agência de propaganda, que liga para o dono do jornal, que chama o jornalista e apela para o seu "bom senso". "Fulano, estou com as mãos atadas e precisamos deste patrocínio...se tu continuares dando porrada, vamos perder esta receita e não poderemos mais arcar com teu polpudo salário...".
Depois desta descoberta, tão vil ou ainda pior do que invasões truculentas e armadas às redações, acabou o estresse de ter de aprovar um projeto como o tal Controle Social da Mídia, proposto e retirado do programa de governo de Dilma no TSE. O repórter aquele está incomodando? Avisa o dono da TV que a concessão dele vai ser questionada, que o BNDES vai abrir uma linha exclusiva para redes que não a dele e manda tirar aquela mídia gigantesca do grupo. O repórter logo terá apenas duas opções: calar-se ou demitir-se.
O problema são os ciclos de persistência, cada vez mais frágeis e desprovidos de qualquer convicção que não se renda às eficazes baionetas econômicas. E o que eu chamo de ciclo de persistência de líderes de opinião de outrora, está com os dias contados. O empresário, dono do jornal ou da TV, mudou de opinião quanto ao capitalismo, à livre iniciativa e à soberania do mercado? Provavelmente não. Sua postura empresarial diante de uma perspectiva não só de sobrevivência, mas de crescimento, ao se aliar aos novos mandatários, esta sim, em vários casos, mudou muito. Afinal de contas, ele é um empresário e não um monge e pode, sim, fazer o que quiser com seu patrimônio. Ficará mal nesta história quem costumava trabalhar com o antigo chefe, aquele que sobreviveu e prosperou nos anos de direita e centro e que, agora, não tem como ser clicado na mesma foto com um chefe que também deseja sobreviver e prosperar em tempos de PT e sua "nova ordem".
Eu disse ao meu amigo, com a sinceridade que ele sempre me mereceu, que ou ele mudava de lado ou de profissão. O Brasil não precisa mais de uma censura verde-oliva. O Brasil tem hoje uma censura capitalista, ainda mais implacável, pública e também privada, que, se por um lado não confisca computadores, assim o faz com vozes, textos, imagens.
A história da nova censura brasileira poderá ser bem pior do que a da Venezuela de Chávez e sua Globovisión.

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