Meu amigo Leudo Costa é apenas um dos milhões de gaúchos saudosos que gostam de preservar tradições. Não há nada de errado nisto. Quem não faz menção de suas lembranças e querenças, não merece sequer tê-las tido. No entanto, eu sou mais da linha dos "bem-aventurados os inovadores, pois deles é o reino dos céus, da terra e o espectro radiofônico". Já não era sem tempo que a "Avó do Rio Grande", finalmente, acaba encarando o desafio de ser a Voz do Rio Grande.
A Rádio Guaíba fez o que simplesmente fazem as organizações que precisam sobreviver: Renovou-se. Ao atentar para a afluência de uma classe social que agora tem mais poder de fogo (a classe C), a Record aproxima-se de mil, mesmo que tenha de se afastar de 10. Esta escolha deve ter sido difícil para os atuais gestores. Cheguei a pensar se a estratégia mais adequada não teria sido simplesmente mudar o nome da rádio para facilitar as alterações. Tivesse sido desta forma lá na aquisição, hoje os magotes de magoados estariam com suas lágrimas enxugadas e tocando em frente suas vidas, devidamente turbinadas por celulares 3G, televisores com telas de LED e high-definition, seus carros Flex tetra-fuel e smartcards até para comprar picolé nas belíssimas praias do litoral catarinense.
No Rio Grande do Sul, tradição é algo que parece ter dono. Pode observar. Há cada vez menos músicos, menos personalidades, menos festivais, menos roncos de bugio, tertúlias, chamuscas e picholeios. Quem está no ar são sempre os mesmos. Parece até que são tudo da mesma família. Aqui no RS, portanto, há uma espécie de paradoxo da tradição. Quem alega cultuá-la, não vai a shows de artistas gaúchos, ficando em casa lamentando as inestimáveis perdas de nossos valores. Aqui no nosso rincão, quem inova e mexe com algum ícone, é logo apedrejado sem perdão. Somos o estado das coxilhas cortadas por cabines-duplas turbo diesel, mas queremos que os outros façam o mesmo trecho no lombo do ginete.
Pois a velha Guaíba está mudando e eu acho ótimo. Rádio AM é do povo, como o céu é do avião. O FM também é cada vez mais popular, não adianta chorar. Eu também me lembro do Programa 2001, de segundas a sextas, às 18 horas, mas como sou um herege dos tempos e um carrasco das tradições caquéticas, prefiro os canais Discovery e o "Mundo de Beackman". Lembro também do vício de origem criado pela Guaíba, que passou décadas sem aceitar jingles, spots ou vinhetas. Que espécie de emissora é esta que não aceita o que há de melhor em termos de criação puclicitária para o rádio? Para piorar, a Guaíba criou um padrão funesto, equivocado, que persiste até hoje, quase que apenas aqui no RS: locutor lendo comercial ao vivo. Lembro do Mazzeron dizendo, com aquele vozeirão, "venha para Pepsi, Pepsi tem o sabor de vencer". Que coisa esdrúxula. Era tão ruim este "padrão Guaíba" que programas como o Conversas Cruzadas, da TV COM, que é bonito, moderno e esteticamente inovador, mantém lá o pobre do –formidável – Lasier Martins fazendo merchandising ao vivo de funerária. Padrão? Pois sim...
Leudo, vou parando por aqui. Desculpe o desabafo. Não é que eu goste ou desgoste da Rádio Guaíba. É que me entusiasmo menos com a tradição e mais com a inovação, coisa que lá na Caldas Junior, era algo que não acontecia desde 1884. Balança!
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