Com essa, Zé não contava. Nem Luiz
Inácio: O fator Garotinho.
Enquanto Zé maquina com Marco e
outros, Agnelo e Cabral sangram de antemão, como sem fossem virgens servidas à
pira de sacrifícios para que Luiz Inácio receba os intestinos de Perillo às
margens do Paranaguá. Ele quer Perillo com uma cachacinha ao lado. O problema é
o preço que alguns amigos terão de pagar. Garotinho, provando ser um moleque
muito peralta, serve, às margens do Mediterrâneo, as vísceras do atual
Governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral de modo magistral.
O Governador Cabral, aquele
mesmo, filho do guerreiro homônimo dos tempos heroicos do Pasquim, amigo do
peito de Luiz Inácio e da companheira Dilma, vai pagar por todas as mordomias
com seu cargo e, quiçá, com sua cassação e desterro. Não desdenhem do povo do
Rio de Janeiro. Ele topa, mas não topa muito. Faz-se de morto, mas é só pra
ganhar sapato novo.
A operação Cachoeira (nome que eu
dou, melhor do que Monte Carlo) vai revirar mais uma vez as entranhas da
podridão política do Brasil. Não será a última. Vai mostrar também a
inutilidade completa de deputados e senadores, de suas malandragens repetidas,
num circo medonho onde o respeitável público é sempre atirado aos leões
famintos.
Se a ideia era detonar Perillo e
Demóstenes, sirvam-se! Agora, achar que a senda termina por ali, eis o grande
engano. William Shakespeare vaticinou: o diabo, à sua própria vontade, também
pode citar as escrituras.
Falando em Shakespeare, eis mais
uma tragédia nacional. Uma trama cheia de reviravoltas que, como a série Lost,
vai acabar sem que entendamos absolutamente nada. E assim como em Lost, a ideia
era exatamente esta, que ficássemos boiando por décadas inconclusivas, depois
de uma história sem pé nem cabeça. Carlinhos Cachoeira, nosso bandidão de rosto
esburacado e gravatas horrendas, é amigo de Capulettos e de Montéquios, de
colorados e de blancos, de bois caprichosos e de bois muito bem garantidos.
Shakespeare também disse que Deus
foi quem escreveu todos os Livros e, nós simples cordeiros, apenas conhecemos, portanto,
a metade da história. Nesta trama cachoeiresca, com toques dirceuseanos, tudo
embalado ao ritmo de garotinhos e de cabrais, ainda vão aparecer muitos faunos
e bacantes, tudo misturado, tudo junto, mostrando mais uma vez a merda de país
que nós temos, a esculhambação e a roubalheira de um bando de safados
ordinários, que se esbaldam às custas da miséria de pessoas, da morte de
pessoas em corredores imundos de hospitais, da ignorância desgraçada de milhões
de seres humanos, que ora eles chamam de idiotas, ora de queridos eleitores.
Um dia, eu realmente espero, um
dia, vou ver esses sujeitos presos.
Mas que ideia tola essa minha.
Como Shakespeare me definiu, sou
apenas um covarde e morrerei muitas vezes antes de minha morte. Não sou um
valente, que sente o sabor da morte apenas uma vez.
Sou apenas um cidadão brasileiro,
um entre tantos milhões de covardes nacionais, um exemplo de como não ser, não
fazer, não existir.
Obrigado, amigos de Cavendishs e
de Cachoeiras, de todas as cores, de todos os partidos.