Acordei na sexta-feira ouvindo no rádio jornalistas indignados com atos de vandalismo praticados em algumas lixeiras novinhas espalhadas pelas ruas pela prefeitura de Porto Alegre. Ao ouvir o velho e surrado tom "indignado", típico de jornalistas cansados e sem assunto, lembrei-me de uma passagem singela de minha vida de marqueteiro de telefonia. Num determinado momento, inquieto com o prevalecimento das pessoas contra os inocentes orelhões, logo imaginei uma campanha daquelas bem emocionais, pra ganhar prêmio. No roteiro, um cara que teria seu cachorro morto sofria porque o orelhão defronte sua casa estava depredado e o veterinário não podia ser acionado. Depois de tudo, viria a mensagem "Cuide de seu telefone público, você ainda pode precisar dele". Os gerentes da área de telefonia pública pularam e me pediram pra esquecer o assunto, mostrando números incríveis que provavam que quanto mais se falasse em vandalismo, mais os pobres dos orelhões sofriam. Calei minha boca na hora. Pensei, por fim, "era bom alguém pedir pra os ilustres jornalistas arranjarem outro assunto, senão pode aumentar o vandalismo".
Troquei de estação e lá estava o velho viamonense (ou não tão velho), contando o caso da empresa de lombadas de Vera Cruz e seus alegados enormes prejuízos, atuais e futuros, com a tal operação do DAER. Meu palpite desde o início era de que a tal força-tarefa não daria em nada e fiquei a imaginar os esforços editoriais imensos que foram empregados para escancarar a medonhagem. Concluí que se cometem injustiças também com os que chafurdam atrás de justiça. Nosso estado anda meio estranho ultimamente. Coisas se misturando, funções se confundindo. Até já escrevi a respeito. Polícia é polícia, juiz é juiz, jornalista é jornalista. Se uma destas parcelas se achar maior do que a outra, se empresas de comunicação se consideram instituições republicanas (só que privadas), vamos repetir as injustiças, regulamentar a impunidade e ter de criar o "Bolsa Mico" com cartão magnético e tudo. Ainda sobre o DAER, meu pitaco é deixar assim mesmo. Vamos agora deixar o seu Eliseu ganhar algumas licitações, coitado, que ele para de se queixar da vida. Com isto, a CPI desaparece e voltamos ao lema "é melhor DAER do que receber".
Procurei em tudo quanto é jornal e nada sobre a Operação Cartola. Só o último guardião Políbio Braga repercute – e com razão. De resto, sumiu como que por encanto. Foram buscar lã e saíram tosquiados. Se o próprio Cartola soubesse que seu nome seria usado para a coisa, certamente pularia no cangote do autor da tal "operação". De novo, resultado mesmo só o nome de oito prefeitos na mais pura e fétida merda. Reeleição? Só se Cucuia virar município. Agora, se a ideia era passar pavor para a prefeitada, a "operação" foi um formidável sucesso. O resumo, no entanto, como diria um amigo de nome Wladimir Lenine Lattuada, é "muito mais ovo do que aplauso".
Minha manhã terminou com a informação de que no aguardadíssimo depoimento, Paulo Feijó teria negado veementemente, diante do juiz, tudo que a Luciana Genro dissera em entrevista coletiva no passado recente. Em resumo, ele disse que nada era verdade, que a filha do governador havia mentido. Desliguei o rádio. Fico constrangido com a mentira. Não deve ser nada fácil lidar com essas coisas em casa.