sábado, 30 de janeiro de 2010

Pois é... a Rádio Guaíba




Meu amigo Leudo Costa é apenas um dos milhões de gaúchos saudosos que gostam de preservar tradições. Não há nada de errado nisto. Quem não faz menção de suas lembranças e querenças, não merece sequer tê-las tido. No entanto, eu sou mais da linha dos "bem-aventurados os inovadores, pois deles é o reino dos céus, da terra e o espectro radiofônico". Já não era sem tempo que a "Avó do Rio Grande", finalmente, acaba encarando o desafio de ser a Voz do Rio Grande.

A Rádio Guaíba fez o que simplesmente fazem as organizações que precisam sobreviver: Renovou-se. Ao atentar para a afluência de uma classe social que agora tem mais poder de fogo (a classe C), a Record aproxima-se de mil, mesmo que tenha de se afastar de 10. Esta escolha deve ter sido difícil para os atuais gestores. Cheguei a pensar se a estratégia mais adequada não teria sido simplesmente mudar o nome da rádio para facilitar as alterações. Tivesse sido desta forma lá na aquisição, hoje os magotes de magoados estariam com suas lágrimas enxugadas e tocando em frente suas vidas, devidamente turbinadas por celulares 3G, televisores com telas de LED e high-definition, seus carros Flex tetra-fuel e smartcards até para comprar picolé nas belíssimas praias do litoral catarinense.

No Rio Grande do Sul, tradição é algo que parece ter dono. Pode observar. Há cada vez menos músicos, menos personalidades, menos festivais, menos roncos de bugio, tertúlias, chamuscas e picholeios. Quem está no ar são sempre os mesmos. Parece até que são tudo da mesma família. Aqui no RS, portanto, há uma espécie de paradoxo da tradição. Quem alega cultuá-la, não vai a shows de artistas gaúchos, ficando em casa lamentando as inestimáveis perdas de nossos valores. Aqui no nosso rincão, quem inova e mexe com algum ícone, é logo apedrejado sem perdão. Somos o estado das coxilhas cortadas por cabines-duplas turbo diesel, mas queremos que os outros façam o mesmo trecho no lombo do ginete.

Pois a velha Guaíba está mudando e eu acho ótimo. Rádio AM é do povo, como o céu é do avião. O FM também é cada vez mais popular, não adianta chorar. Eu também me lembro do Programa 2001, de segundas a sextas, às 18 horas, mas como sou um herege dos tempos e um carrasco das tradições caquéticas, prefiro os canais Discovery e o "Mundo de Beackman". Lembro também do vício de origem criado pela Guaíba, que passou décadas sem aceitar jingles, spots ou vinhetas. Que espécie de emissora é esta que não aceita o que há de melhor em termos de criação puclicitária para o rádio? Para piorar, a Guaíba criou um padrão funesto, equivocado, que persiste até hoje, quase que apenas aqui no RS: locutor lendo comercial ao vivo. Lembro do Mazzeron dizendo, com aquele vozeirão, "venha para Pepsi, Pepsi tem o sabor de vencer". Que coisa esdrúxula. Era tão ruim este "padrão Guaíba" que programas como o Conversas Cruzadas, da TV COM, que é bonito, moderno e esteticamente inovador, mantém lá o pobre do –formidável – Lasier Martins fazendo merchandising ao vivo de funerária. Padrão? Pois sim...

Leudo, vou parando por aqui. Desculpe o desabafo. Não é que eu goste ou desgoste da Rádio Guaíba. É que me entusiasmo menos com a tradição e mais com a inovação, coisa que lá na Caldas Junior, era algo que não acontecia desde 1884. Balança!

Ofícios Natalinos


Meu primeiro expediente de Natal vai direto para as páginas de Coletiva.net por um motivo muito particular e que, de certa forma, me traumatizou há dois anos atrás. É claro que todos se lembram da campanha da Bauducco com o menino pedindo silêncio a seu pai para poder ouvir os papais-noéis cantando. Os bonequinhos eram brindes dentro das caixas de panetone. Meu filho de seis anos pediu-me que comprasse o produto – e que todos lá em casa detestam – apenas por causa do bonequinho. Quando abrimos a embalagem, o filho querido, do alto de sua encantada inocência, perguntou:
- Pai, este está estragado. Não está cantando...
É claro que liguei e escrevi para a Bauducco reclamando do que era, flagrantemente, uma propaganda nojenta e enganosa. Depois observar o sofrimento do meu filhote pelo silêncio do tal brinquedo e pela insistência para que eu comprasse outro panetone, decidi levar adiante meus direitos de consumidor e cidadão. Desejando que a Bauducco seja muito feliz (ou que se exploda, tanto faz), fiz os contatos indicados no site e apelei para quem? Para o tal de CONAR (agora eles vão ver...). Sabe o que aconteceu, após correspondência protocoladinha e tudo? Absolutamente NADA.
Portanto, depois de ter achado fio de nylon no meio de um pão da Nutrella e após ter meu troco sempre a menos nos supermercados Nacional (as caixas, quando eu reclamo, dizem "vai fazer falta ao senhor dois centavos?"), decidi que não vou reclamar mais para as empresas. Em 2010, vou criar um blog apenas para registrar estas ocorrências, comigo e com todas as pessoas do universo. O blog será chamado "pesadelodasSACs.com.br".
Antes, porém, faço um pedido de "restituição" e uma solicitação singela. No domingo, fui ao cinema com a família. Optamos pelas maravilhosas salas do Barra Shopping Sul. Chegamos ao shopping (que considero o melhor do RS, viu?) e houve pelo menos 10 quedas de energia. As tais quedas inviabilizaram negócios para vários lojistas e o cinema me devolveu o dinheiro dos ingressos, alegando que não tinha como prestar serviço com aquela instabilidade. Decidimos ir para casa. Fomos validar o ticket de estacionamento e minha mulher se deu conta de que era injusto pagarmos estacionamento, uma vez que o cinema estava inoperante por causa dos mini-apagões. Pagamos, entretanto, pois o único ar condicionado que estava funcionando era o da cabine da moça do estacionamento.
Daí que, ao invés de reclamar para o marketing do Barra (que os lojistas a-do-ram), opto por solicitar a devolução dos meus R$ 3,50, assim como para pedir que o meu shopping preferido adquira um gerador Stemac (propaganda, viu?) para evitar que a gente tenha que perder tempo escrevendo estas linhas ou indo ao cinema que, mesmo possuindo as melhores salas de Porto Alegre, não vão funcionar sem luz.
Vou deixar uma idéia, para não dizerem que "criticar é fácil, difícil é fazer". Sugiro que as empresas substituam suas áreas de ouvidoria por setores de "fazedoria". As atividades seriam ampliadas. Ao invés de apenas ouvir sem fazer absolutamente nada, as organizações FARIAM alguma coisa para atender, se não todas as inconformidades de hordas bárbaras de consumidores, pelo menos os pedidos mais flagrantes e incontroversos de forma imediata. Teria a sigla SACCAL – Setor de Atendimento a Clientes Comprovadamente Abusados e Ludibriados.