Roubo virou erro, criminoso virou aloprado, caixa dois virou recurso não contabilizado, favela virou comunidade (ou complexo), Palocci, inocentado, virou ministro de novo e José Dirceu também é puro e inocente como bebê. Lula é um estadista, Ahmadinejad é "companheiro" e a conivência com o tráfico e a milícia virou "UPP". A televisão do Franklin Martins virou TV pública, Dilma é uma democrata e Gilberto Carvalho nada tem a ver com o assassinato de Celso Daniel.
O mensalão nunca existiu, Erenice Guerra não sabia de nada e o marido da "Maria Caveirão" nada tem a ver com petróleo nem com a Petrobrás. Haddad não tem culpa dos repetidos erros do Enem, assim como a saúde pública brasileira está próxima da perfeição, segundo Lula.
Agora mais recentemente, censura virou Conselho de Comunicação Social e perseguição à imprensa é chamada de controle social. Preste atenção quando você ouvir um petista usando a palavra "social". É para tomar algum de alguém, para se apossar do que não lhe pertence, para usar as "forças sociais" contra quem não é "companheiro".
O argumento é que concessão de rádio e TV é prerrogativa do poder executivo para cidadãos brasileiros e que "precisa de fiscalização". Para a turma do grande PT, no entanto, fiscalizar significa criar mais boquinhas para a "companheirada", mais interfaces para a propina e a corrupção. Em qualquer ação, um jogo de palavras fáceis de decifrar. O que eles querem é determinar o que nós devemos ou não ver e ouvir. Nada é mais imundo, covarde e nojento do que isto.
O que os sindicatos apelegados e atopetados de jornalistas incompetentes, desprovidos de qualquer talento profissional – sim, incompetentes, sem talento, TODOS sem exceção – querem é ter poder sem ter de trabalhar, mandar sem precisar liderar, desagregar e não valorizar. Basta que se dê a eles um Conselho de Comunicação Social para vermos que a pré-história é logo ali, duas quadras depois do Governo Olívio Dutra, virando à esquerda na rua que nos leva às trevas de novo.
Será um conselho gaudério de censura que, infelizmente, não terá muito que fazer. Ou alguém ainda não sabe que a mídia gaúcha deu vitória a Tarso Genro, detonando um governo complicado, mas de excelentes resultados como o de Yeda Crusius? Alguém ainda se engana ao imaginar que nossos jornais e canais de rádio e TV não estão completamente à mercê do PT?
Neste caso, despeço-me dos temas políticos nesta data. Irei agora para um período de autoflagelo. Lerei semanalmente os textos do Paulo Tiaraju e me lembrarei daquele personagem do Jô Soares que dizia "eu me odeio". Depois de sofrer pela ausência da pauta política na minha vida, lerei apenas livros de culinária e coisas sobre novelas. Do jeito que a coisa vai, é o que mais terá nas capas de jornais brasileiros muito em breve.